segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

MARIA GANCHA

Maria Gancha era uma velha, mesmo muito velha. Ninguém sabia a sua idade, nem ela própria!
Para além de velha, já sem dentes e a pele toda enrugada, tinha um nariz, tipo batata, também ele todo enrugado. No queixo uma grande verruga, cheia de pêlo, completava o retrato medonho.
Vestia sempre de preto e morava numa casa ainda mais velha do que ela, numa clareira de uma mata, no sopé dum monte.
Nesse lugar, sempre húmido e coberto de nevoeiro, ninguém ousava entrar, apenas ela… a Maria Gancha.
Ninguém sabia o que ela fazia ou o que comia, apenas sabiam que andava sempre com uma gancha na mão, daí o seu nome.
Nunca foi vista à luz do dia e raros foram aqueles que conseguiram observar o vulto fugidio de Maria Gancha, em noites de lua cheia.
A sua intrigante e obscura fama começou a espalhar-se pelas redondezas. Todos tinham medo de pronunciar o nome dela, sobretudo as crianças, porque Maria Gancha era afamada por assustar tremendamente as crianças e, pior do que isso, por raptar criancinhas e levá-las para o seu misteriooooooooso mundo!
Foi então que as crianças da aldeia, sempre que chegava a noite, começaram a trancar as portas e a fechar todas as janelas, para que a Maria não lhes aparecesse com a sua assustadora gancha na mão.
Intrigados com toda esta história, eis que uma turma da Escola EB 2/3 de Amares resolve organizar uma visita à casa de Maria Gancha e desvendar tudo o que lá se passava.
Então a turma 5º C começou os preparativos dessa nocturna aventura. O Américo, a Ana, o André, a Cristina, a Diana, a Emília, o João, o Leonel, a Leonor, as duas Márcias, a Mariana, o Miguel, a Paula, o Rui, o Sandro e o Sílvio, mesmo entusiasmados, tremiam de medo e amarravam-se uns aos outros, só de pensar no assunto.
Na noite marcada e à hora combinada lá estavam eles no adro da igreja da aldeia, prontos para tamanha façanha.
Munidos de lanternas e vestidos de roupas escuras começaram então, silenciosamente, a sua caminhada em direcção ao monte.
Pelo caminho o piar de um mocho desfez momentaneamente o silêncio do grupo. Mais à frente, já perto da clareira da mata uma coruja quase desencorajou os alunos. É então que começam os desentendimentos na turma, que até aqui se tinha mantido unido. A Paula, o André, a Leonor, o Leonel, o Sílvio e a Mariana já não aguentavam tanto medo e queriam voltar para trás, mas não tencionavam ir sozinhos.
Agrupada toda a equipa e após alguns momentos de aterrorizante silêncio, entremeado de algumas conversas, decidiram então continuar com o seu propósito de ir à casa da Maria Gancha.
Cada vez mais assustados lá seguiram por meio da mata escura e húmida.
Mais à frente e já mais perto do seu destino, um bando de morcegos passa pelo meio deles e é ver o Miguel bater com a cabeça contra uma árvore e a Emília a esbarrar-se contra a Cristina, enquanto a Diana se amarra ao João, já quase a chorar de medo.
Decididos que estavam em levar avante o que haviam acordado, apanharam as lanternas, respiraram fundo e resolveram continuar a marcha.
A clareira estava agora à frente deles, mas a casa da Maria Gancha ainda não era visível por causa do intenso nevoeiro que pairava no ar.
A lanterna do Rui deixou de funcionar e a apreensão do grupo começou a fazer-se sentir.
Era um mau presságio.
Com muita dificuldade, as Márcias, a tremer de frio e a lanterna do Sandro a começar a falhar, lá chegaram ao pé da casa, que já não tinha porta e que tinha alguns vidros de algumas janelas partidos.
Pararam repentinamente e novamente se amarram uns aos outros, agora com os corações a bater com mais força.
O Américo disse que ia à frente e que não tinha medo nenhum, mas mal deu um passo para passar a porta da entrada da casa da Maria Gancha soltou um griiiiiiito de morte, porque se tinha esbarrado com uma enorme teia de aranha que estava instalada na entrada da porta da casa. Nesse momento deixou cair a lanterna num buraco e a luz era agora cada vez menos.
Pararam alguns momentos e quase todos achavam agora que era melhor irem-se embora, até porque grande parte das lanternas, das que sobravam com vida, começavam a falhar. No entanto, a Emília lembrou que afinal estar tão perto da casa, e depois de tudo o que já tinham passado, e ir embora sem nela entrar seria uma imensa frustração, mesmo contando com todo o medo que os assombrava.
Decididos a levar a sua aventura até ao fim, entram repentinamente na casa e todos, em roda, com as pernas e os braços a tremer e com a respiração sufocada, esperavam dar de caras com a velha muito velha que andava sempre com uma gancha e assustava as criancinhas. Mas…. Nada!
- Aaaaaiiiiiiiii! – gritaram todos em uníssono. Um vulto estranho em forma de sombra tinha passado mesmo à frente deles.
Petrificados, não saíram do lugar e já só lhes restavam duas lanternas a funcionar. Mas um olhar mais atento revelou que a sombra do vulto que viram era afinal dum gato preto, que por ali se abrigava do frio que fazia na mata.
Encostada a uma parede cheia de musgo estava uma velha gancha, abandonada, cheia de pó e com tanta ferrugem, que de certeza há já muitos anos que não era usada.
Admirados concluíram que apenas só havia a gancha e não havia a Maria, que só aparecia à noite e assustava as crianças da aldeia.
David Carpinteiro e alunos do 5º C da Escola E.B. 2/3 de Amares - Ano Lectivo 2009/2010

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