Cresci a ouvir chamar saramelas às salamandras e parece-me que o nome até lhe está bem apropriado. Ora pensem bem na pro-núncia da palavra: sa…ra…me…la e visualizem o aspecto preto-amarelo-salpicado e melado-gelatinoso do bicharoco. Até soa bem!
Ora as saramelas, salamandras, queria eu dizer, são um animal, da classe dos anfíbios, da ordem caudata e da família Salamandridae.
Descobri recentemente que são, tam-bém, conhecidas por salamântegas, saramânti-gas e saramagantas, para além de saramelas.
São batráquios urodelos, de forma semelhante aos lagartos, de pele nua e bri-lhante e por vezes manchada de amarelo.
Não querendo ocupar o lugar de qualquer entendido na matéria, nem pretendendo tornar a minha história num manual de zoologia, gostaria de acrescentar que as minhas pesquisas levaram-me mais longe na descober-ta deste tão afamado animal.
A salamandra encontra-se principalmen-te em áreas de bosque, normalmente em ter-reno montanhoso ou de colinas. Escolhe prefe-rencialmente habitats húmidos e sombrios, por vezes nas cercanias de ribeiros ou charcos. Na época de reprodução prefere águas limpas e correntes, no entanto, também, é frequente em charcos, canais de rega, tanques, represas e até albufeiras.
Como animal nocturno, a salamandra-de-pintas-amarelas só sai do seu esconderijo durante o dia, depois de uma forte chuva. Apresenta uma locomoção lenta. Activa nor-malmente entre Setembro e Maio. Nas regiões mais altas pode hibernar durante os meses mais frios.
Reproduz-se entre Setembro e Maio, dependendo das regiões. O acasalamento ocorre em terra. É uma espécie ovovivípara ou vivípara, podendo a fêmea depositar entre 20 e 40 larvas na água. Os jovens são semelhan-tes aos adultos.
Alimenta-se essencialmente de inverte-brados terrestres (escaravelhos, formigas, caracóis, lesmas, minhocas, centopeias, ara-nhas...). As larvas alimentam-se de insectos aquáticos.
Ah! Mas afinal do que estou eu para aqui a falar. Por pouco já me ia esquecendo da nossa história. Digo “nossa” porque ela não é só minha, como já vão ver. Eu apenas sou um ouvinte e que agora resolvi passar isto em jeito de história.
Então, aqui vai.
São seis de Novembro de 2009. E manhãzinha cedo, temos a professora Clara, de Ciências da Natureza, em plena caminhada pela mata do Bom Jesus, em Braga, para manter a boa forma física.
Enquanto levava avante os seus matinais exercícios depara-se com uma bicolor salamandra. Parou… ficou alguns instantes a olhar para ela e pensou…
- Vou levá-la comigo para a escola. Hoje tenho aulas de Ciências da Natureza e vou mostrá-la aos meus alunos.
Dito e feito. Pegou na salamandra e levou-a para a escola
Já na escola e acompanhada da salamandra dentro duma caixinha vai então para as aulas.
Nem de propósito, ia ter o 5ºC, a turma dos nossos amigos: o Américo, a Ana, o André, a Cristina, a Diana, a Emília, o João, o Leonel, a Leonor, as duas Márcias, a Mariana, o Miguel, a Paula, o Rui, o Sandro e o Sílvio.
Foi o fim do mundo!
A aula começou, mas quando a professora lhes mostrou o que tinha dentro da caixa… foi vê-los uns aos gritos, outros enojados, outros radiantes… Enfim! Uma incontrolável excitação.
E logo começaram as histórias fantásticas à volta das salamandras.
Todos queriam falar, todos queriam mexer!
E repentinamente se fez ouvir a voz de uma entendida na matéria:
- Ei! Não bulas na salamandra – disse a Cristina.
E a mesma ideia foi logo reforçada pelo André, que também sabe destas histórias.
Então fez-se silêncio na sala.
A professora estava com uma vontade tremenda de se rir, por causa do verbo bulir. O mesmo verbo, sinónimo de mexer, que me trouxe à memória a minha infância vivida na aldeia, porque esse termo era frequentemente usado na linguagem do povo.
Mas ainda não estava tudo dito. Faltava a sentença final:
- Se mostrares os teus dentes à saramela ficas com eles da cor dela – atestou a Cristina, tentando desviar o seu olhar da nossa amiga preta-amarela-salpicada.
De imediato os outros especialistas da turma concluíram que não se deve olhar para uma saramela com a boca aberta, porque os dentes ficam podres.
Ora tais recomendações levaram-me novamente pelos caminhos da investigação. E sabem o que afinal encontrei?!!!
Afinal isso é verdade! Há uma crença popular que afiança que não se deve olhar para uma saramela com a boca aberta, porque os dentes ficam escuros. “ Se mostrares os teus dentes à saramela ficas com eles da cor delas”.
É o que diz o povo!
Perturbada a turma fez um estrondoso silêncio.
Mas de imediato, havia já quem pusesse as mãos nos dentes, outros perguntavam aos colegas se notavam qualquer alteração no seu aspecto, enfim…
Era um pavor!
Por fim e no meio do pânico instalado por causa da possibilidade dos dentes deles apodrecerem, a professora Clara, com muita serenidade e com um olhar grave e muito sério, informou:
- Meus meninos! Não se preocupem mais com os vossos dentes, pois acabaram de chegar, agora mesmo, os vossos cheques-dentista.
David Carpinteiro e alunos do 5º C da Escola E.B. 2/3 de Amares - Ano Lectivo 2009/2010
David Carpinteiro e alunos do 5º C da Escola E.B. 2/3 de Amares - Ano Lectivo 2009/2010
Sem comentários:
Enviar um comentário