quarta-feira, 30 de maio de 2012

Perdidos no bosque

Era tempo de férias de verão e por isso mesmo a Maria de dez anos e a sua irmã gémea, a Ana, queriam aproveitar ao máximo cada dia antes que as aulas começassem. Depois de muito pensarem chegaram à conclusão de que não haveria melhor lugar para passarem as férias do que a acolhedora aldeia onde os seus avós viviam. Falaram com o João, o Carlos e a Sara, que eram os seus melhores amigos e que, tal como elas, estavam desejosos de viver aventuras para terem o que contar aos colegas de turma quando as aulas começassem. Depois de falarem com os seus pais e eles terem concordado, os cinco amigos telefonaram aos avós das gémeas que acharam a ideia formidável.                         
   Estava tudo pronto no dia de partida e passadas algumas horas de viagem, chegaram finalmente à casa dos avós. Era uma casa pequena, mas muito acolhedora, que ficava numa aldeia no interior do país e estava rodeada por um gigantesco bosque, onde só havia mais uma casa, que pertencia a um homem muito mal-humorado, de aspeto assustador e que raramente dirigia a palavra a alguém, nem mesmo aos avós das gémeas. Na verdade há muitos anos tinha havido um problema e os avós e este vizinho deixaram de se falar.
Sobre o bosque que rodeava as casas havia muitas lendas sobre lobisomens, vampiros, bruxas e outras personagens que apesar de normalmente assustarem as crianças, só faziam com que os cinco amigos ficassem ainda mais entusiasmados e curiosas. E foi esta curiosidade que os levou talvez à maior aventura das suas vidas.
Certo dia, decidiram ir passear pelo bosque a ver se descobriam algo novo. Disseram aos avós e eles, apesar de preocupados, lá concordaram, dizendo-lhes para não se afastarem muito e para regressarem a casa antes do anoitecer. As crianças ficaram radiantes, pegaram nas mochilas e em alguma coisa para o caso de terem fome. Queriam estar fortes para poderem percorrer todo o caminho e estarem atentos a tudo.
Depois de seguirem caminho e de percorrerem uma grande distância perceberam que já tinham saído de casa há muito tempo. A Sara, como mais velha e menina responsável que era, avisou-os de que talvez fosse melhor voltarem, mas estavam todos tão entusiasmados que a convenceram a avançar.
Ouviam pássaros, colhiam flores, saltavam riachos, contavam anedotas e assim as horas iam passando. Sentiam que cada passo que davam fazia com que estivessem cada vez mais perto de uma grande aventura.
Distraídos, nunca mais se lembraram do que os avós lhes disseram e caminhavam cada vez com mais curiosidade, com mais vontade... Quando finalmente se aperceberam que o sol já não iluminava mais o caminho e que em vez deste, no céu, estava a brilhante e redonda lua ficaram muito admirados. Como era noite e não conseguiam ver bem o caminho para voltarem para casa decidiram ficar e passar a noite no bosque, mas para isso precisavam de encontrar um lugar seguro e abrigado para poderem dormir e descansar para no dia seguinte voltarem para casa.
Apesar de fortes, todos estavam com medo de toda aquela escuridão. Só de imaginarem-se a passar ali a noite fazia com que o medo aumentasse, no entanto, tinham noção de que não conseguiriam chegar a casa sem se perderem se voltassem para trás naquele momento.
Depois de muito procurarem, encontraram uma espécie de gruta numa pedreira. Entraram, pousaram as mochilas e antes de se deitarem lembraram-se de que no meio de toda a alegria até se tinham esquecido de comer. Com tanta brincadeira nem tinham reparado que os seus estômagos estavam a dar horas.
Já era tarde e depois de um dia cansativo como aquele estavam estafados e só queriam deitar-se, ter uma noite descansada e acordarem de manhã. Mas na verdade isso não foi bem assim... A noite foi muito mais ativa do que esperavam! Enquanto tentavam dormir ouviam barulhos, o que os impedia de adormecer, cada um deles permanecia atento a qualquer barulhinho, a qualquer uivar dos lobos, a qualquer chilrear de um pássaro... Mas houve um barulho, parecia alguém ou alguma coisa a caminhar na direcção da gruta onde estavam, que lhes chamou a atenção. Fosse o que fosse era muito grande, algo muito maior que qualquer coelho, que qualquer raposa... As suas cabecinhas começaram imediatamente a imaginar o que seria. As gémeas lembraram-se que talvez fosse um lobisomem como aqueles de que se falavam nas lendas sobre o bosque ou então um animal perigoso que estaria a caçar... Assustados, pegaram nas mochilas e tentaram fugir despistando-o, pois o barulho das passadas do tal ser pareciam estar a aproximar-se deles cada vez mais.
Correram, correram, cada vez mais depressa e apesar de não saberem o caminho, o medo fazia com que fugissem sem parar e seguissem pelos caminhos, que pareciam permitir chegar à casa dos avós mais rapidamente, pois isso era o que mais desejavam naquele momento. Olhavam para trás de dois em dois segundos com medo que estivesse atrás, mas passado algum tempo perceberam que “aquilo” já não os estava a seguir, mesmo assim continuaram a correr até que finalmente perceberam que tinham chegado à aldeia dos avós.
Quando chegaram à casa dos avós, estes estavam com uma cara de preocupação, que as crianças só conseguiram abraçá-los e pedir-lhes desculpa.
Depois de lhes contarem tudo o que se passou, incluindo o aparecimento daquele ser que tanto os assustou, os avós perceberam tudo... Afinal o assustador ser que os tinha perseguido naquela noite era simplesmente o vizinho carrancudo. Os avós preocupados com a ausência das netas e dos seus amigos, deixaram de lado todas as zangas, todas as chatices e pediram ajuda ao seu único vizinho, este era a pessoa que melhor conhecia o bosque e de certeza que os ia encontrar. E na verdade encontrou, só que eles ficaram tão assustados que desataram a fugir e ele nunca mais os viu. As crianças ficaram muito mais aliviadas e assim que o vizinho chegou à aldeia elas foram agradecer-lhe pelo seu bonito gesto.
A partir daquela noite, o vizinho carrancudo e os avós das gémeas passaram a cumprimentar-se, jantavam em casa uns dos outros e até as crianças passaram a ir visitá-lo de vez em quando. Apesar de tudo ter acabado bem, as gémeas e os amigos perceberam a lição e prometeram que nunca mais iriam desobedecer às regras dos mais velhos. Toda aquela situação serviu de exemplo para as crianças e fez com que a amizade entre os avós e o vizinho voltasse. Mas de uma coisa, os cinco amigos tinham a certeza, nunca se iriam esquecer daquela aventura!

Rui Soares, nº 21, 5º G - EB 2/3 de Amares - 2011/2012

1 comentário:

  1. Já tenho saudades de escrever textos como este!
    Está muito bem escrito!

    Emília Fins

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